.a arte de preparar café

O vento ruge furioso e levanta sem piedade o telhado da esplanada, frágil demais para resistir às suas investidas. Na mesa ao lado, dois homens falam sobre carros. Interrompe-me uma chamada, combinamos encontros da maneira moderna, liga-me quando chegares, depois logo vemos. Cheiro o perfume enjoativo de uma cigarrilha, enquanto se discutem ilhas e divórcios contenciosos. Falar da vida alheia, ao contrário da crença popular, não tem género.

Comida e fados, igrejas e o Terreiro. (Será Leiria ou Lisboa?). Sou descuidado com a modernice da chamada a toda a hora e, por isso, pouso o telemóvel em cima da mesa, à espera da luz que me avisa da chamada que vai chegar. (Falavam sobre Leiria). Levantam-se. Estão fartos de apanhar com o vento e as poeiras.

Dentro do café, mostram-se roupas de bebé e esboçam-se sorrisos embevecidos. As pessoas pequeninas vêm ao mundo para serem mimadas e admiradas, crescem para tomar conta de outras pessoas pequeninas, o ciclo recomeça em progressão geométrica. Escaldado. Pingado. Curto. Com gelo. Com uma gota de limão para curar a ressaca. Descafeínado. Tanta coisa para se pedir um café.